outro dia eu estava parecendo um abacaxi fora de época, azeda no último grau. A culpa não era minha, mas das coisas que me irritam e insistem em me rodear. Tem muita coisa que me deixa feliz, mas outras tantas que me tiram do sério. Em geral, é sempre "gente" que me tira do sério, mas um tipo específico de gente. Sabe aquela pessoa para quem você pergunta "qual a viagem da sua vida?" e a pessoa responde: Camboja, Laos, India....Ah a India...e aí a pessoa começa a falar da beleza que existe nos pobres da India, como são resilientes... são serenos. Sim são serenos, de vez em quando estupram uma ou outra moça num onibus, mas isso aí é só um mero detalhe. Tive esse papo outro dia com uma amiga que chegara da Nigéria e ficou falando mais de uma hora da beleza daquela pobreza, do povo alegre e hospitaleiro. Ela ainda me disse que sabia que aquela viagem não tinha sido em vão, ela tinha mudado a forma como via o mundo´, deve ter mudado também o trato intestinal, sim porque lá náo tem saneamento básico. Isso ela me contou entre uma garfada e outra da pasta que ela comia no Due Cuochi do Shopping Cidade Jardim (eu ja notava ali uma mudança radical.... a massa era só ao pomodoro, simplezinha). Ah! ela também falou dos "cartões postais" da vida dela, e um deles é o Rio Ganges!! " Ai amiga, que energia tem aquele rio!", eu logo pensei - " bem, pra quem gosta de cocô, o Ganges é uma feijoada" .
Mas o meu incomodo não é ela gostar da Nigeria, de Serra Leoa, a minha questão é porque é que ela e tantas outras pessoas como ela, nao conseguem enxergar as mesmas coisas por aqui! Porque estas pessoas não dão um pulinho ali no Jardim Angela? Em Parada de Taipas? Em Heliópolis? Vão ver a mesma gente, pobre, resiliente, hospitaleira! Vão ver violencia também, mas há muita coisa bonita! E mais, estas pessoas que precisam de ajuda estão muito mais perto de nós! " Ai amiga, mas eu gosto é de viajar!" Ok fofa, vai pro Vale do Jequitinhonha, antes que eu te mande prá...bem, deixa prá lá, é até capaz de você gostar.
